Não deixa de ser muito interessante falarmos de máscaras em pleno Carnaval.
Porém, e contrariamente ao que a maioria das pessoas pensa, o uso de máscaras é quase tão antigo como a própria humanidade.
Desde o inicio da nossa civilização, ou seja, desde que começamos a “conviver uns com os outros” que o ser humano tem necessidade de esconder ou mostrar mais do que aquilo que realmente é.
Seja para esconder imperfeições, seja para provocar um impacto maior nos outros, seja para se sentir mais confiante em determinada situação.
O uso da máscara está intrínseco ao ser humano. Aliás, a palavra “pessoa” deriva de “persona” que era o nome que os actores romanos davam às máscaras que usavam em teatro.
Um dos maiores símbolos do teatro são então, coincidência das coincidências, duas máscaras.
O uso da máscara não está dependente de nenhum contexto histórico, religião ou grau evolutivo de uma sociedade mas está sim disseminado um pouco por todas.
Existem tribos em África que antes da batalha se mascaram para provocarem medo nos adversários, existem tribos na Costa Rica que se mascaram para os rituais de passagem a adultos dos novos membros, existem pessoas que usam a máscara de um determinado filme como imagem de grito de revolta ou identificação com os ideais de um grupo. Existem também pessoas que se mascaram no Carnaval.
Mas destas máscaras estamos todos cientes da sua existência histórica. E das outras?
Pois é, todos nós, todos os dias usamos máscaras que nos ajudam a conviver com outras pessoas, inclusivamente com aquelas que não gostamos.
Os nossos papéis diários (de pai, filho, avô, patrão, empregado, amigo, namorado) exigem que nos mascaremos. Mascaramos-nos para nos sentirmos integrados, nos sentirmos aceites. Ninguém é CEO de uma grande empresa e vai trabalhar com o pijama que dormiu na noite anterior. E também convém que depois de uma visita à sogra se diga “muito obrigado dona Maria foi um prazer”, quando no fundo foi uma seca. – isto são máscaras, as nossas máscaras.
Se por um lado é bom que as tenhamos (já pensaram no caos que seria se cada um dissesse o que sentia, a toda hora?), por outro há que ter cuidado.
A nossa sociedade exerce uma pressão imensa sobre nós e muitas vezes acabamos por usar mais as máscaras por medo do que por outra coisa qualquer.
O problema acontece quando nos habituamos demasiado às nossas máscaras, ao ponto de já não sabermos quem realmente somos.
Muitas vezes em consultório aparecem-me pacientes que se dizem infelizes. Quando lhes pergunto porquê, dizem que não sabem! – a máscara já está lá à tanto tempo que já não a distinguem.
Existem pessoas que passam a vida toda acomodadas à máscara. Porque a máscara é confortável, é um mal menor.
Aliás, muito do trabalho da Psicologia arriscava-me a dizer, passa por desmascarar a pessoa, ou melhor, que ela se desmascare a ela própria para que descubra realmente quem é.
Não faltam pessoas mascaradas de pessoas felizes.
Deixo-vos a pensar se não seremos mais nós próprios quando nos mascaramos no Carnaval, do que no resto do ano quando nos mascaramos de “pessoa”.
João Fernando Martins
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